“Logo em seguida veio a água e a luz, aí sim a vida começou a se transformar.”

 “Logo em seguida veio a água e a luz, aí sim a vida começou a se transformar.”

Crédito: Luis Maike/Agência Cria Brasil

Maria Rita é moradora de Paraisópolis há 45 anos e viu a comunidade se estruturando ao longo dos anos 

Cheguei em São Paulo em 1977 e, praticamente, desde que cheguei estou em Paraisópolis. Depois de seis meses que cheguei aqui, meu pai veio, quando foi no fim do ano seguinte ele voltou [para Alagoas] e buscou todos, ficou só quinze dias lá e trouxe minha mãe com meus irmãos. Fomos morar no barraquinho do seu Louro, quando eu cheguei não tinha nada disso, não tinha água, luz e transporte.

Depois de uns oito anos que eu estava em Paraisópolis, o transporte começou a chegar e, logo em seguida, veio a água e a luz, aí sim a vida começou a se transformar. Antes de termos água encanada, tudo era mais difícil, tínhamos que pegar direto do poço do vizinho, que nem sempre estava disponível para dar baldes d’água pra gente. Além da dificuldade com a falta de água encanada, também sofríamos com a falta de luz, usávamos candeeiro até um tempo, depois o seu Louro cedeu um bico de luz para usarmos. Mas, não podíamos passar ferro nas roupas quando o mercadinho dele estava aberto, para que a luz do comércio não caísse. O mercadinho dele, era um alívio pra gente que comprava as despesas do mês e pagava quando recebíamos o salário, na época havia mais dois mercadinhos aqui em Paraisópolis.

O caminho para pegar o ônibus era com muita lama. Quando saíamos para trabalhar, a sacolinha com outro sapato limpo vinha dentro para trocar no momento em que entrávamos na condução, essa era a única condução que tinha, não havia outra maneira.

Para irmos à feira lá no Brooklyn, que acontecia todo domingo, íamos de kombi, o seu Pedro levava a gente e ficava esperando para levar para casa de novo.

A escola, só tinha o Homero, com três salas de aula, mas para as crianças era maravilhoso, a educação era muito boa, nesse ponto aí não tenho nada o que dizer.

Já a saúde era mais complicada, a gente tinha que ir para fora e caminhando, porque os hospitais que tinham era o Paulistano ou hospital do Morumbi que hoje em dia é um imenso prédio na Giovanne, ali na baixada depois do Shopping Jardim Sul. O primeiro prédio grande que tem ali, todo de vidro, era o hospital do Morumbi, então só tinha esses dois hospitais.

As pessoas que tinham carros socorria as mulheres para ganhar neném e, quando não dava para levar, meu cunhado já foi várias vezes no Palácio do Governo, buscar os policiais para socorrer as pessoas

Agradeço a Deus pelo lugar que eu moro. Aqui hoje é uma cidade maravilhosa que muita gente quer conhecer, aqueles que vão embora com o tempo voltam de novo. Hoje é maravilhoso, mas foi muita luta pra chegar onde chegamos e precisamos agradecer aos governantes da nossa época que olharam por nós, porque se não fossem eles, não tinha nada disso. Tem muita gente hoje em dia que ainda batalha por isso e não está conseguindo. E eu só vou sair daqui quando morrer.

Acompanhe essa e outras histórias da segunda favela de São Paulo, Paraisópolis, aqui no link: https://instagram.com/memoriasdeparaisopolis?igshid=YmMyMTA2M2Y=

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Repórter do jornal Espaço do Povo há 1 ano e apresentadora do programa Saúde Mulher Moderna e Bem Informada no Facebook.

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