Fake

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Crédito: Getty Images/iStockphoto

Um dos problemas da atualidade são os golpes e as fraudes cibernéticas. Bem, melhor um roubo online que um assalto ao vivo. Mesmo assim, os potenciais de estragos são enormes. Hackers podem acessar dados sensíveis de empresas e exigir resgates vultosos para a devolução, como ocorreu, por exemplo, com a TV Record, que teve seu acervo de conteúdos sequestrado, ou o laboratório Fleury, que sofreu com prejuízos em operações e no relacionamento com clientes.

Dia destes, diante da perda financeira de uma colega de trabalho em razão de golpe digital, outro colega comentou: “Que coisa, como essa pessoa tão informada e culta cai nessa?”. Respondi: “Não me surpreende. Os fraudadores em alguns casos são muito persuasivos e competentes!”

Eu mesma poderia ter caído em um, não estivesse, como sempre, no mundo da lua. Explico: estava eu em uma reunião quando recebi ligação telefônica. Por alguma razão, decidi atender (nunca atendo números desconhecidos). A voz era de uma moça educadíssima, querendo confirmar uma compra minha numa loja virtual, porque estava em curso tentativa de pagamento em meu cartão de crédito. De fato eu tinha conta naquela instituição bancária, e neguei a compra (de forma relutante, porque minha memória não é nenhuma Brastemp). A simpática “atendente” me informou que iria então deletar o pagamento, bastando para isso que eu digitasse alguns dados em mensagem que ela me passaria em seguida ao meu celular, via SMS. Recebi a mensagem, mas simplesmente não tinha como enviar os dados solicitados (não lembrava dos números). Pedi para minha secretária entrar em contato com o banco – que obviamente negou ter requerido qualquer informação minha. Aprendi de vez que bancos não ligam solicitando dados, e que esses pilantras cibernéticos podem ser muito competentes (poderiam se destacar na carreira corporativa se trabalhassem em empresas).

Com frequência também recebo mensagens no whatsapp como se fosse de um dos meus filhos, informando: “mãe mudei de cel me manda pix 2 pau que eu pressiso pagar a escola”. A vontade é responder: “Filho, você tá mesmo precisando de uma escola, para corrigir esse português horrível!”. Mas bloqueio o sujeito e pronto, não vale a pena esticar o assunto.

E a coisa complica mais quando entramos na seara emocional. Recentemente ri muito num almoço de trabalho, quando uma moça bonita e inteligente, executiva de multinacional, me relatou um episódio pessoal. Ela havia se divorciado no início da pandemia de Covid, e estava sozinha e carente. Resolveu arriscar contatos virtuais nesses sites de namoro (Tinder e outros). Numa das tentativas, deu match com o cara dos sonhos: lindão na foto, papo ótimo (“citava Guimarães Rosa!”), tanto em áudio quanto em textos no whatsapp. Quando ela me disse que a voz dele era linda e sexy, num tom sussurrante, não aguentei e brinquei: “Se você não quer mais o cara, me passe o contato!”.

Pois bem, depois de um tempo, o bonitão (sempre evitando vídeos) contou uma história triste sobre alguma emergência familiar e pediu grana, prometendo que devolveria na semana seguinte. Acabou o encanto, é claro. O cara insistia. Investigando, ela conseguiu descobrir que os sinais do celular vinham… de uma penitenciária. Estava explicada a voz sexy e sussurrante: certamente era para não acordar o companheiro de cela. A coitada só conseguiu se livrar do fulano, que a ameaçava caso não passasse o dinheiro, quando adotou a linguagem dele, truculenta: alegou ter bons contatos na polícia e saber em que penitenciária ele estava. Arrematou: “a história não vai acabar bem pra você!”.

Conclusão: até os sites de relacionamento – que deveriam ser só love – são perigosos. Segundo dados recentes, a maior parte dos sequestros em São Paulo são derivados nesses sites. No primeiro encontro pessoal, ao invés do bonitão (ou bonitona) da foto, a vítima encontra meliantes em busca de dinheiro fácil. Como se vê, nem tudo é amor, e contos de fadas não existem, infelizmente.

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É mãe, avó e executiva do Grupo Folha e do Grupo UOL.

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