Se comunicar com a favela é uma tarefa fácil, basta querer!

 Se comunicar com a favela é uma tarefa fácil, basta querer!

Diálogos são importantes para manter a relação. Quando você não expressa o que sente, não se comunica usando a linguagem apropriada, fica difícil entender a mensagem. Com a favela é a mesma coisa! Eu costumo dizer que se alguém deseja falar com o público C, D e E é preciso entender como essas pessoas se comunicam. Se a intenção for falar com moradores de favela e bairros periféricos, tem que ser da maneira deles e é importante entender das “manhas”. Temos uma linguagem própria e, não estou falando de gíria ou dialeto, mas, sim, de uma forma correta de nos representar. E isso, é sim, importante. O padrão utilizado nas propagandas, nas novelas, não traduz a favela e consequentemente, não se comunica conosco. 

A periferia tem um potencial econômico gigantesco, se fossem uma empresa seriam a quarta maior do país. Pensando dessa forma, fica claro o porquê das marcas buscarem alcançar essa parte da população. Quando falamos em aproximação, elas se esforçam, buscam falar a nossa língua, entender o que estamos fazendo, vestindo e como estamos vivendo. Por um lado, isso é bastante positivo, pois existe um esforço em quebrar estereótipos de uma favela marginal, pobre e carente. Aliás, temos até um manual sobre termos que não devem ser utilizados para falar sobre a gente. Os termos “carente” e “marginal”, por exemplo, que são bastante utilizados e reforçados pela imprensa e mídia, é um deles. E como diz o presidente do G10 Favelas, Gilson Rodrigues, “Nós não somos marginais! Nós somos marginalizados.” 

Esta preocupação em mostrar uma favela real e comunicar assuntos de interesse da comunidade foi o que motivou Joildo Santos, jornalista e fundador do grupo Cria Brasil,  a criar o Espaço do Povo, há 15 anos, um jornal de território que mostrava a Paraisópolis que a mídia tradicional não conhecia. No início, essa comunicação era feita apenas dentro da favela. Contudo, alguns anos depois desse “start”, nascia uma agência de comunicação dentro de Paraisópolis com objetivo de quebrar o estereótipo de uma favela violenta e perigosa e mostrar ao mundo  a potência das favelas. Um relacionamento com a imprensa foi criado e Paraisópolis virou notícia para todo tipo de assunto. Os moradores recebiam a imprensa e articulavam as matérias de forma a mostrar o lado que a mídia tradicional não  mostrava, de uma comunidade organizada em busca de desenvolvimento e melhorias na educação, esporte, cultura e fortalecimento dos empreendedores. 

O serviço de assessoria de imprensa aconteceu de forma despretensiosa, nós apenas queríamos mostrar a favela real. Os jornalistas que chegavam aqui em busca de mostrar mais do mesmo, eram surpreendidos e pautados de forma a levar ao mundo a mensagem da favela potente, cheia de sonhos e vontades, humanizada, porque não queríamos fortalecer aquela imagem que estávamos acostumados a ver na TV. Queríamos mostrar o balé, a orquestra, os artistas e os movimentos sociais de Paraisópolis. 

Em 2020, a agência passou a conversar com as marcas que queriam se comunicar com essa parcela da população, por conta disso, foram feitas parcerias com grandes empresas. O grupo Cria Brasil juntamente com o G10 Favelas, segue fazendo esse trabalho de comunicação em busca de  alcançar e promover o diálogo de forma clara e objetiva com as manhas da favela e representatividade. 

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Jornalista, produtora cultural, diretora de comunicação da Cria Brasil, agência de comunicação de território de favela que surgiu com o compromisso de gerar impacto social positivo nas comunidades do país.

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