Cansados de descaso, moradores cobram hospital em Paraisópolis

Publicado no Jornal Espaço do Povo 31

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Por Keli Gois

Apesar de todo desenvolvimento vivido na comunidade de Paraisópolis, a saúde é um dos assuntos que mais preocupa os moradores, que sofrem diretamente as consequências da falta de atendimento médico hospitalar, que muitas vezes impossibilita-os de realizar exames, cirurgias ou até mesmo um atendimento emergencial.

Para ter uma ideia do quanto Paraisópolis sofre com a falta de leitos hospitalares, basta atentar-se aos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que revelam que a cada mil habitantes sejam oferecidos quatro leitos hospitalares. Na Vila Andrade, onde vivem mais de 350 mil pessoas, a população deveria ter acesso a 1.400 leitos, mas não há nenhum, os moradores contam apenas com três Unidades Básicas de Saúde (UBS) e uma Assistência Médica Ambulatorial (AMA).

Maria Sônia Francisca Teixeira, sabe muito bem as consequências disso. Pelo fato de não ter um hospital na comunidade, a dona de casa, que é portadora de um grave problema de coração, tem que deslocar-se diariamente em busca de atendimento médico especializado.

Além de arcar com custos altos dos medicamentos que, infelizmente, ela não encontra na rede pública de saúde, também tem que arcar com o transporte. Ela conta que quando precisa de atendimento médico tem que madrugar para conseguir chegar à consulta no horário marcado, e o trajeto leva mais de duas horas.

Ter que deslocar-se para outros bairros para conseguir atendimento médico é a realidade de muitos moradores da comunidade, como é o caso de Maria Vitória, que também sofre de problemas no coração e é obrigada a procurar atendimento médico fora da comunidade. A aposentada conta que sempre que precisa realizar exames ou fazer uma consulta tem que pegar duas conduções para chegar ao local.

Moradora da comunidade há mais de 40 anos, Maria Luisa de Barros Araújo é paciente da UBS I, onde, segundo ela, sempre falta médico. Com isso, ela, que tem problemas de locomoção, é obrigada a sair da comunidade e buscar tratamento em diferentes bairros de São Paulo. “Tenho um problema sério no joelho, ando de bengala e tenho que pegar vários ônibus para chegar à fisioterapia. É um sacrifício”, relata.

Além de ter que sair da comunidade para conseguir atendimento médico, outro problema apontado pelos moradores é a demora para conseguir marcar uma consulta e também para receber o resultado dos exames. “Faltam mais médicos e mais agilidade para passarmos nas consultas. Além disso, os exames não chegam ou levam meses para chegar”, reclama Leila Patrícia, que devido a demora em receber os exames acaba tendo que refazê-los porque perdem a validade.

Mãe de 3 filhas, sendo uma com deficiência decorrente de uma paralisia cerebral, Maria das Graças dos Santos conta que, por não ter um bilhete especial devido a um erro no laudo médico, sempre que tem que levar a filha às consultas médicas chega a gastar R$ 24. Além disso, sofre em ter que deslocar-se com a filha que tem o lado esquerdo paralisado, o que dificulta o caminhar de casa até o ponto de ônibus e até mesmo dentro do transporte, quando algumas vezes sofre o desrespeito de outros passageiros que não cedem o assento.

É importante ressaltar que enquanto há a briga sobre a necessidade ou não de um hospital na comunidade, quem sofre são os moradores que precisam utilizar diariamente o serviço público de saúde, principalmente aqueles que necessitam de um atendimento médico especializado, sendo obrigados a deslocar-se para outras regiões para não morrer à mercê de uma decisão política que não vem.

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