Taxistas se articulam para criar cooperativa em Paraisópolis

Do Blog Mural

Eram exatamente 20h quando o telefone instalado numa pequena cabine na parede tocou: mais um cliente solicitando um táxi para buscar um passageiro. Dessa vez, no aeroporto de Congonhas. Minutos depois, um casal de namorados se aproxima do ponto onde fica a frota. “Tá livre?”, perguntou o rapaz. Em seguida, os dois entraram no carro. O destino: o Shopping Morumbi, zona sul de São Paulo.

Com uma população que beira os 100 mil habitantes, demandas como essas fazem parte do cotidiano de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, também na zona sul. Desde a semana passada, a comunidade passou a contar com uma cooperativa de táxi fixa dentro da favela.

O ponto fica na praça Dr. Humberto Delboni, perímetro que divide as mansões do Morumbi de Paraisópolis, e a poucos metros do ponto final da linha de ônibus que leva os moradores ao terminal Princesa Isabel, na região central.

“Hoje em dia, as pessoas estão preferindo desembolsar R$ 20, para chegar no local desejado em 3 minutos, por exemplo, a pagar R$ 3, e enfrentar um ônibus lotado, e demorar quase uma hora para chegar onde quer”, afirma Bruno Santos, um dos taxistas da frota formada por 13 veículos, que há dois meses deixou a manutenção de banheiras de hidromassagem para transportar passageiros.

Erisvania da Costa Barros, 29, moradora de Paraisópolis, que trabalha no departamento de marketing de uma empresa área em Congonhas, afirma que já passou situações desagradáveis por não conseguir um táxi para sua casa. “Sempre viajo a trabalho na empresa. Uma vez precisei voltar para casa mais tarde e quando eu disse que iria a Paraisópolis o taxista me pediu para descer do carro”.

Taxistas da companhia de táxi local, na praça Dr. Humberto Delboni, em Paraisópolis
Taxistas da companhia de táxi local, na praça Dr. Humberto Delboni, em Paraisópolis
Em outra situação, o taxista de um hipermercado se recusou a levá-la à comunidade. “Primeiro eles olham se o destino é ao menos alguma das ruas principais da comunidade”, conta. Agora, diz, é difícil até mesmo de agendar um horário com os taxistas locais.

É o que garante Waldomyro Silva, que afirma ser crescente a demanda. Os veículos estão disponíveis de domingo a domingo –chegam a rodar por 24 horas durante alguns dias da semana. “Paraisópolis tem uma população enorme, realmente não damos conta”, diz. Para atender ao volume de solicitações, ele planeja dobrar a frota nos próximos dois anos. “Queremos chegar a 30 carros”.

Entre os pedidos dos passageiros estão itinerários que vão desde os chamados “pescocinhos”, que, na gíria dos taxistas, são percursos curtos –como é o caso da pessoa que precisa ir com urgência ao posto médico ou levar uma compra para casa– até mesmo aos trajetos mais longos, normalmente aos terminais rodoviários.

Para Silva, a frota está ajudando não apenas a encurtar o caminho da população, mas contribuindo ainda para diminuir preconceitos. “Quando o destino informado é Paraisópolis, muitos taxistas não querem entrar na comunidade com medo de serem assaltados”, diz.

Segundo ele, a companhia de táxi tem contribuído para quebrar esses estereótipos. “Parece que na comunidade tem aumento o fluxo de taxistas vindos de outras localidades”.

Vagner de Alencar, 25, é correspondente de Paraisópolis.
@vagnerdealencar
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