Márcia, a manicure de Paraisópolis e sua cadeira motorizada

Da Folha de São Paulo

JUCA VARELLA
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

No caminho para casa, em Paraisópolis, Márcia tem que enfrentar ruas estreitas e esburacadas
No caminho para casa, em Paraisópolis, Márcia tem que enfrentar ruas estreitas e esburacadas
A manicure Márcia Maria de Jesus,35, sofre da “doença dos ossos de vidro” (osteogénese imperfeita) desde que nasceu, em Osasco, na grande São Paulo. Aos dois anos, já com várias fraturas e com as pernas se deformando, foi levada pelo pai e deixada para viver com a avó em Ipiaú (BA).

A mãe abandonou a filha ainda bebê. Márcia nunca andou direito. Se arrastava pelo chão com chinelos nas mãos até os 10 anos, quando um médico, propôs uma cirurgia que poderia curar sua doença.

Seria a segunda operação da sua vida — a primeira fora aos nove anos para colocar pinos de platina que sustentariam os ossos das pernas.

Márcia fez a cirurgia com o médico “milagreiro” e, depois de acordar, percebeu que o pino de platina que sustentava sua perna esquerda havia sido retirado sem permissão, o que provocou uma atrofia irreversível em sua perna e selou seu destino. Nunca mais viria a andar. “Aquele médico roubou a platina de minha perna, e eu só tinha 10 anos!”

Aos 14 começou a trabalhar como manicure, ainda na Bahia. Em 1997 voltou para São Paulo com a avó que a criou e foi morar em Paraisópolis. Hoje é casada, tem um filho de 13 anos e seu sonho de ter uma cadeira motorizada foi realizado.

Há mais de seis meses vinha tentando um financiamento a juros baixos, subsidiado, para comprar a cadeira que custava R$8 mil. Conseguiu o crédito através de uma linha de financiamento destinado a pessoas com deficiência “pouco utilizada e divulgada”, segundo o gerente do banco que fez o financiamento.

Três dias depois saiu de Paraisópolis com o marido, Roberto Rodrigues de Andrade, 47, pegou uma lotação e foi buscar sua cadeira em uma loja especializada em Santo Amaro, onde aprendeu a “dirigir”, como ela diz.

Na volta, depois de pilotar a cadeira por becos e ruas estreitas da comunidade sem acessibilidade alguma e “bater” em um carro estacionado, chegou em casa. Ali a esperava Maria Porfíria de Jesus, a avó Dona Nenê, que a criou na Bahia.

Dona Nenê, aos 103 anos, recebeu a filha na porta, com os braços abertos, agradecendo e bendizendo o esforço da filha para conseguir o que tão sonhava.

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