Comércios na favela crescem durante a pandemia

Por Talytha Cardoso 

 

Empregos estáveis e comércio a todo vapor era a meta financeira para muitas famílias. Mas devido à pandemia, os sonhos ruíram como um castelo de areia, forçando-as a mudarem drasticamente a economia familiar. A vida de muitas pessoas mudou durante  a pandemia, a rotina de ter um trabalho estável era algo normal antes do pesadelo que já dura quase dois anos. 

 

Quem nem poderia imaginar ficar sem a segurança de um trabalho fixo, se viu obrigado a se reinventar no mercado de trabalho e torcer para não estar incluído no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Só no primeiro semestre do ano passado, o desemprego no Brasil já passava dos 15,2 milhões, sendo em média 452 mil pessoas em situação de desocupação, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

 

Assim era a vida da Claudia Regina de Silvério, 50 anos, que vive em Paraisópolis há 8 anos. Antes de ter seu próprio comércio, vendia bolos e salgados de porta em porta. Hoje,  comemora, mesmo que com muita luta, sua nova vida como empreendedora. Sua mini padaria, pode atender parte de alguns moradores da segunda maior favela de São Paulo, Paraisópolis. Seus bolos de potes e salgados antes vendidos na rua, hoje estão expostos na vitrine.

 

Observando a necessidade de vender mais que pães e bolos,  Claudia expandiu parte do negócio com produtos de primeira necessidade, como produtos de limpeza, cafés e outros alimentos que conseguem suprir o dia a dia das donas de casa da comunidade.

 

A rotina de empreender na selva de pedra, também faz parte da realidade do  Edijavan Luiz da Silva, 34 anos, conhecido como Java, sendo hoje  empresário do ramo de alimentação e bebidas, ele vê como um desafio gerir a própria empresa. Antes de ter seu comércio, o aconchegante e conceituado Java’s gin Bar, especializado em coquetéis, trabalhava como maitre de uma conceituada churrascaria de São Paulo. Chegou até fazer sociedade com ex-funcionários do grupo da mesma empresa onde trabalhava, ficando por dois anos como sócio, mas decidiu sair de lá para atender outros clientes com prestação de consultorias e treinamento de equipe. 

 

Pouco tempo depois, já estava engatado para voltar ao grupo da churrascaria onde era sócio e maitre, mas devido às incertezas da pandemia que surgiram no meio do caminho, decidiu ser seu próprio patrão. Apesar do seu negócio estar recentemente atendendo os moradores de Paraisópolis, ele se vê realizado fazendo o que gosta, empreendendo não apenas seu comércio, mas aprendendo com os desafios de ter funcionários e toda a rotina que o empreendedor vive no dia a dia. Sua esperança é fazer com que seu negócio cresça mesmo em meio a pandemia, que ainda não passou. 

 

Segundo pesquisa do Outdoor Social, o poder de consumo das favelas juntas atinge mais de 170 bilhões de reais por ano. Apesar de muito a ser feito para arrefecer o mercado, o sonho de Cláudia é o de muitas mulheres que buscam a independência financeira. 

 

No período de pandemia, muitas mulheres alçaram voos mais altos, se tornando empreendedoras. Segundo dados da Rede Mulher Empreendedora, o crescimento só no ano de 2020 foi de 40% de  mulheres inseridas no mercado empreendedor, esses dados coadunam com o estudo feito pela Global Entrepreneurship Monitor, que apontou, até o momento, em média, 30 milhões de mulheres de negócios no Brasil. 

 

Atuante há 16 anos em Paraisópolis, a AMP (Associação de Mulheres de Paraisópolis), presidida pela líder comunitária Flávia Rodrigues, oferece oficinas, palestras e ações que visam empoderar a mulher da periferia a traçar seu próprio caminho por meio dessas atividades. Só no ano passado, em média cinco mil mulheres foram alcançadas pela associação, que hoje atua no Pavilhão Social do G10 Favelas. 

 

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