Violência contra a mulher: existe uma saída

Por Keli Gois 

Do Terminal Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, saem diversos ônibus que conectam diferentes pontos da cidade. Mas é em uma casa de acolhimento localizada a poucos metros de lá, que mulheres vindas da região do Capão Redondo, Vila Andrade e do próprio Campo Limpo, encontraram seus caminhos.

 “- Seja bem-vinda!”, seguida de um sorriso no rosto, é assim que todas as mulheres que chegam ao Centro de Defesa e Convivência da Mulher, Mulheres Vivas (CDCM), são recebidas. Por lá, além de atendimento psicológico, elas recebem também orientação jurídica e podem participar de cursos de capacitação na área de panificação e confeitaria, além de cursos de convivência como Tai Chi Chuan.

“As mulheres podem vir por demanda da delegacia, do CRAS, do CREAS, do Posto de Saúde ou do hospital. Qualquer suspeita de violência pode ser encaminhada para cá”, explica Sheila Pauli Hsu – Gerente e psicóloga no CDCM Rede Mulheres Vivas, enquanto mostra alguns totens espalhados pela casa, uma exposição itinerante que conta histórias reais de mulheres mortas vítimas de violência doméstica na Zona Sul da capital.

Nas salas de acolhimento, às mulheres que chegam são recebidas pelas assistentes sociais e psicólogas, que fazem o primeiro atendimento, assim como dos filhos, que também podem ser recebidos no local. “Se elas precisarem de atendimento jurídico, elas podem contar com a consultoria de uma advogada, que, inclusive, pode fazer o Boletim de Ocorrência para as vítimas de agressão e que não se sentem à vontade de ir até a delegcia”, comenta Sheila. 

Gerente da casa há dois anos, Sheila explica o Ciclo da Violência Doméstica, que consiste no Acúmulo de Tensão (quando não há diálogo, a tensão cresce e a mulher tenta acalmar a situação), passando para a Explosão (quando atos de violência e agressões verbais, psicológicas, físicas e sexuais acontecem), até chegar na Lua de Mel (quando vêm as promessas de mudança por parte do agressor e acontece a ausência de agressão). “Mesmo as mulheres tendo consciência do Ciclo da Violência, elas sempre acham que com elas vai ser diferente, então tem muitas que demoram a perceber esse ciclo.”

O trabalho de Sheila, das assistentes sociais, psicólogas e advogadas da casa é justamente orientar essas mulheres, para que elas entendam como o ciclo de violência ocorre e também tomem conhecimento dos diferentes tipos de violência, que, além de física, podem ser psicológica, sexual, patrimonial ou moral.

“Quando elas chegam aqui, a gente vai conversando e explicando sobre violência. Tem muita mulher que chega aqui por conta dos cursos, aí depois a gente vai conversando sobre violência e elas entendem que passam por isso.”

Além de contar com todo o suporte da casa, mulheres em situação de vulnerabilidade social que sofrem violência doméstica e queiram deixar seus lares, podem solicitar um auxílio-aluguel de R$ 400, que é pago pelo governo pelo período de até um ano, com possibilidade de prorrogação. E o serviço pode ser solicitado ali mesmo, no centro de acolhimento.

A casa atende cerca de 150 mulheres, e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h para acolher toda e qualquer mulher que precise de ajuda, inclusive as mulheres Trans, que além de preconceito, também são vítimas da violência.

TIPOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Violência Física

Qualquer comportamento que ofenda sua integridade ou saúde corporal 

Exemplos: • Empurrar • Chutar • Torturar • Bater • Violentar • Mutilar • Espancar • Amarrar • Atirar Objetos • Sacudir • Usar Arma Branca • Usar Arma de Fogo

Violência Psicológica

Qualquer comportamento que te cause dano emocional e diminuição da autoestima, causando prejuízo à saúde psicológica.

Exemplos: • Constrangimento • Humilhações • Manipulação •Isolamento • Ridicularização • Exploração • Controle Social • Ameaça • Vigilância • Constante Perseguição • Insultos • Chantagem

Violência Sexual

Qualquer comportamento que te constranja a presenciar, manter ou a participar de relação sexual não desejada. Impedir a utilização de qualquer método contraceptivo ou te force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição. 

Exemplos: • Fazer a mulher olhar imagem pornográficas • Exigir práticas que você não gosta 

  • Obrigar a mulher a fazer sexo com outras pessoas 

Violência Patrimonial e Econômica

Qualquer comportamento que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos

Exemplos: • Controlar seu dinheiro • Causar danos de propósito a objetos que ela gosta 

  • Reter objetos, ou instrumento de trabalho • Ocultar bens e propriedades;

Violência Moral

Qualquer comportamento que configure calúnia, difamação ou injúria

Exemplos: • Fazer comentários ofensivos na frente de estranhos ou conhecidos 

  • Expor a vida íntima do casal para outras pessoas, inclusive nas redes sociais.
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