Raio X da urbanização em Paraisópolis

Com mais de 100 mil habitantes, Paraisópolis passa por urbanização (Foto: Joildo Santos)
Com mais de 100 mil habitantes, Paraisópolis passa por urbanização (Foto: Joildo Santos)

Quem conhece Paraisópolis sabe e reconhece as transformações que a comunidade passou nos últimos anos, principalmente nos últimos 10, quando recebeu recursos para o Programa de Urbanização de Favelas.

Com mais de 100 mil habitantes, o cenário vivido atualmente na segunda maior comunidade de São Paulo requer muita atenção. Apesar de tantas mudanças, ainda há muito a ser feito, como a construção de moradias e escolas, obras de saneamento básico, além de parques e outros equipamentos que proporcionarão acesso à educação, lazer e cultura.

Após alguns meses de paralisação nas obras e uma série de reuniões junto aos órgãos públicos, além da mobilização da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis (UMCP), que realizou passeatas em 2013 pela volta da urbanização, as obras foram retomadas e já é possível perceber a movimentação das máquinas. Os barracos construídos em áreas de risco, hoje dão espaço para tratores e escavadeiras que começam a formar estruturas que receberão diversos equipamentos, como é o caso do Grotão, que abrigará a Escola de Música e de Artes e também o Parque Sanfona.

Se de um lado é possível ver o desenrolar das obras, de outro falta mobilização, como é o caso do Antonico. Considerada uma das maiores áreas de Paraisópolis, no local ainda há muitas famílias vivendo em cima do córrego que corta a comunidade. O mesmo se repete no Grotinho e Grotão, onde é fácil visualizar o contraste que divide a região. Apesar de muitas obras importantes já estarem em andamento, há ainda muitos barracos de madeira construídos em áreas de risco, além de famílias vivendo em cima de esgotos, sem água encanada, energia elétrica ou saneamento básico.

Esse problema talvez seja reflexo da falta de moradia que existe em Paraisópolis, que há muito tempo aguarda a construção de Unidades Habitacionais, promessa feita desde o início da urbanização, um sonho aguardado por muitas famílias há mais de sete anos, quando as primeiras casas foram demolidas para o início das obras. O problema é que o número de famílias que aguardam moradia é muito superior às unidades previstas.

A realidade vivida hoje pelas famílias é totalmente diferente daquela prometida há alguns anos com a chegada da urbanização. Atualmente, mais de 4 mil famílias que saíram de suas casas aguardam no aluguel social, muitas delas, inclusive, têm que tirar dinheiro do próprio bolso para ter um lar, já que, na maioria dos casos, o aluguel social não é suficiente, levando em conta o valor cobrado hoje em Paraisópolis.

O que agrava ainda mais o problema é que pouco vem sendo feito para resolver a questão. Apesar de muitas obras já terem sido iniciadas, não há projeto definido para a construção de novas moradias, e as famílias lidam apenas com promessas e mais promessas.

Um ponto fundamental para auxiliar essas famílias nessas e em outras questões relacionadas à urbanização é o Conselho Gestor, que pode fiscalizar o andamento das obras e sugerir melhorias ao programa. O problema é que, apesar de faltar apenas os conselheiros indicados pelo poder público e concessionárias, passados quase cinco meses da eleição, os membros ainda não foram empossados, sendo impossibilitados de realizar seu trabalho.

Diante do que foi apontado pelos próprios moradores que sofrem diretamente com tais problemas, mais uma vez levantamos a questão da última licitação, realizada em 2010, quando R$ 176 milhões foram disponibilizados para as obras de urbanização e até hoje muitas ainda não foram entregues. Mesmo sem uma resposta clara sobre a destinação da verba, a Prefeitura de São Paulo já discute uma nova licitação que deve acontecer este ano, cujos investimentos serão destinados às três regiões consideradas mais precárias em Paraisópolis: Grotinho, Grotão e Antonico.

Grotão

Grotão
Com uma área total de 87.678 m², a região já foi considerada uma das mais precárias (Foto: Keli Gois)

Situado na região central de Paraisópolis, o Grotão já representou uma das muitas áreas de risco que ainda existem na comunidade. Com uma área total de 87.678 m², a região, que já foi considerada uma das mais precárias, abrigará equipamentos como a Escola de Música e de Artes, que vai contemplar projetos de música e dança; o Pavilhão Social, espaço destinado a Ongs e projetos sociais desenvolvidos em Paraisópolis e o Ecoponto, onde a comunidade poderá descartar entulho como restos de construção e móveis velhos.

Apesar de contar com obras de equipamentos que trarão benefícios à comunidade, o Grotão ainda traz muitas preocupações aos moradores. No local, vivem muitas famílias instaladas em condições desumanas, muitas delas sem acesso à rede de esgoto, água encanada e energia elétrica regular.

Grotinho

Grotinho
Equipamentos construídos na região viraram depósito de lixo (Foto: Keli Gois)

Apesar de estar localizado em uma das regiões que receberam grandes investimentos como a construção do CEU e da ETEC Paraisópolis, ao passar pelo Grotinho a impressão é de que o local foi esquecido. Muitas famílias voltaram a ocupar uma área de risco que já sofreu diversos incêndios e desmoronamentos.

Apesar de causar a impressão de abandono, é importante ressaltar que a região já recebeu investimentos durante a execução do Programa de Urbanização. No local foi construída uma praça, uma quadra e uma pista de skate. O problema é que os equipamentos servem, muitas vezes, de depósito de lixo, como acontece com a Pista de Skate, que ao invés de receber jovens e adolescentes para a prática de esportes, acumula lixo e entulho.

O problema do Grotinho não é só este. Apesar da constante falta de moradia, na região existe um condomínio do CDHU totalmente vazio, isso porque a construtora responsável pela obra declarou falência e o prédio simplesmente ficou abandonado, sendo quem poderia abrigar 112 famílias.

Uma das soluções para suprir a falta de moradia seria a utilização de um terreno localizado na região, onde está prevista a construção de 251 Unidades Habitacionais. Se sair do papel, conforme promessa feita no programa, este será o maior condomínio e poderá abrigar muitas famílias que aguardam no aluguel social.

Brejo

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Região recebeu diversos investimentos pelo Programa de Urbanização (Foto: Reprodução)

Localizada próximo a Avenida Perimetral, a região do Brejo já recebeu diversos investimentos pelo Programa de Urbanização, a começar pela própria avenida, que permite liga a comunidade a importantes vias da região central.

Futuramente, a região abrigará as estações Paraisópolis e Flávio Américo Maurano do Monotrilho – Linha 17 Ouro; o Parque Paraisópolis; um Centro Integrado de Cidadania (CIC) e também poderá abrigar o Hospital Geral de Paraisópolis, já que um terreno já foi indicado, faltando apenas que o projeto da construção, bastante cobrado pelos moradores, seja aprovado pelo poder público. E, para atender a demanda de educação na comunidade, que sofre com a falta de vagas nas escolas e creches, um terreno também foi indicado para a construção de equipamentos educacionais.

Centro

Centro
Um dos principais problemas que assolam a região é a questão da falta de calçadas (Foto: Keli Gois)

Embora a região central de Paraisópolis seja uma das mais desenvolvidas por concentrar residências e comércios, o local ainda tem muito a ser feito. Um dos principais problemas que assolam a região é a questão da falta de calçadas e também ruas estreitas, onde o pedestre tem que dividir espaço com carros e barracas nas calçadas.

Um aspecto importante levantado pelos moradores é a falta de pontos culturais no local, já que na região central não há sequer um ponto de cultura, dando espaço para que as ruas tornem-se locais para a realização de festas e bailes.

O lado esquecido de Paraisópolis: Obras do Antonico sequer saíram do papel

Córrego do Antonico corta a comunidade Paraisópolis
Com 1km², córrego do Antonico corta a comunidade Paraisópolis (Foto: Jeferson Santos)

Inserido no Programa de Urbanização de Favelas, promovido pela Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo (Sehab), o Projeto Urbano Córrego do Antonico, desenvolvido  pelo escritório MMBB, sequer saiu do papel. 

Licitado em 2010, o projeto prevê a  construção de áreas verdes, parques lineares, sistemas de iluminação, esgoto, água potável, canalização de córregos, área de lazer e criação de um calçadão em sua extensão e linhas de ônibus. 

Quatro anos depois da licitação, e sem nenhum recurso para iniciar a obra, a situação do Córrego Antonico é considerada  uma das piores de Paraisópolis. Cerca  de 40% da população, hoje estimada em 100 mil habitantes,  vive na região. 

O córrego do Antonico corta uma trama urbana de cerca de 1 km² e  recebe a água do esgoto de grande parte da população da comunidade de Paraisópolis

Morador olha destroços dos barracos que caíram após chuva de granizo
Morador olha destroços dos barracos que caíram após chuva de granizo (Foto: Jeferson Santos)

Devido  ao crescimento populacional desorganizado e a falta de intervenção pública, a região tornou-se uma das mais precárias, os espaços de terrenos junto ao córrego foram preenchidos por construções, e quem não tinha condições de comprar um terreno construiu por cima do córrego mesmo.Basta ameaçar chover para que os  moradores fiquem apavorados com medo de enchentes no local. 

Segundo moradores, em dias de chuva forte a água do córrego causa transbordamento em várias partes do percurso do Antonico, invadindo casas e comércios da região, quando até carros já foram arrastados para dentro do córrego. Mas os transtornos não param por ai, em dias normais, os moradores são obrigados a conviver com o mau cheiro proveniente das águas de esgotos despejados a céu aberto  pelas centenas de casas da região.

Projeto Antonico

Área de intervenção / desapropriação

37.713 m²

Nº de desapropriações

698 u

Área de faixa de expansão

2.350 m²

Área de interesse coletivo

591 m²

Área de habitações propostas

9.456 m²

Nº de unidades habitacionais propostas

128 u

Área edifício de equipamentos e serviços

2.498 m²

Nº de árvores propostas

370 u

Nº de luminárias públicas propostas

132 u

 

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