Periferia Sustentável: o laboratório de tecnologia social da quebrada

 Periferia Sustentável: o laboratório de tecnologia social da quebrada

Foto: Leonardo Almeida

“Eu vejo um grande impacto na questão da tecnologia na vida das pessoas quando ela tem um propósito”, Fabio Miranda, fundador do projeto Periferia Sustentável.

Imagine uma quebrada que, através de um laboratório ensina como produzir o próprio gás de cozinha, criar o próprio fertilizante de plantas e até instalar painéis de energia solar em casa. Não é Wakanda, é Periferia Sustentável, projeto que transmite conhecimentos sobre tecnologias sustentáveis de baixo custo para serem replicadas por todos.

Criado no bairro do Jardim Nakamura, distrito do Jardim Ângela, zona sul da cidade de São Paulo, o Periferia Sustentável mostra outra visão do consumo consciente, a visão periférica e ancestral. Seu foco é a implementação de sistemas de geração e distribuição de energias renováveis nas comunidades de São Paulo e do Brasil, equilibrando a tecnologia, o ser humano e a natureza.  

Fabio Miranda, é co-fundador do Instituto Favela da Paz, instituição que acolhe o projeto. Conhecido dentro do instituto como professor Pardal, ele tem a missão de produzir as tecnologias sociais dentro da iniciativa, além de falar sobre questões ligadas às mudanças climáticas dentro das quebradas, tornando a conversa muito mais simples para todas as pessoas envolvidas

“Eu tenho 45 anos de idade, mas a minha avó já fazia isso, então é ancestral a questão da sustentabilidade, isso é uma coisa que estava integrado na sociedade, mas com o tempo, foi perdendo essa consciência, então é um resgate ancestral”, conta.

Chama do biodigestor desenvolvido dentro do Periferia Sustentável

O laboratório dentro da favela produz ferramentas com base na necessidade da população local, independente do bairro. Toda tecnologia é testada dentro do próprio instituto, seja na cozinha ou instalações de água e luz. A partir desta experiência feita dentro de casa, são criadas oficinas e cursos que ensinam as pessoas das quebradas sobre tecnologias que ajudam o meio ambiente.

“Quando a gente nasce na quebrada, a gente já nasce empreendendo e já tem que ser sustentável, não tem como a gente fugir desta realidade. Porque quando falta água, falta onde? Na quebrada”, explica.

Um exemplo destas inovações, é o biodigestor construído dentro do laboratório, sistema foi produzido em 2013 e replicado em outros bairros. O biodigestor consiste em gerar gás através de resíduos orgânicos produzidos na nossa casa e que seriam descartados em um aterro sanitário.

Neste processo é produzido o biogás, usado para cozinhar e o biofertilizante, usado para fornecer nutrientes às plantas. O biodigestor desenvolvido por Fabio chegou a produzir 20 litros de gás por dia, utilizando resíduos orgânicos, quase um botijão de uso doméstico.

“A gente tá sofrendo agora com a questão da mudança climática e tem que ser agora o movimento. A gente tem que fazer as coisas acontecerem agora, para que lá no futuro a gente tenha isso já garantido. Eu olho pro futuro sempre com a expectativa do que a gente está fazendo agora”.

Fabio e sua filha no laboratório móvel do Periferia Sustentável

Outra ferramenta dentro do projeto é o Lab Móvel, um laboratório dentro de uma van, que apresenta tecnologias sociais e energias renováveis nas periferias e escolas públicas da cidade de São Paulo. Nestas visitas, Fabio mostra na prática como funciona o uso de novas tecnologias para criar soluções dentro do próprio território que protejam o meio ambiente, como o Lab Móvel, alimentado por energia solar.

Por meio desta iniciativa, ele leva conteúdos e práticas sustentáveis para pessoas que não teriam acesso a estas informações devido a desigualdade social vivida nos bairros mais pobres da cidade. Espalhando a informação que é possível construir um futuro saudável e sustentável, usando tecnologias de baixo custo.

“Quando você simplifica a tecnologia, as pessoas olham e vêem que é possível a gente ter uma vida mais integrativa com a natureza tendo a tecnologia como ferramenta”, finaliza Fabio.

Atualmente, por intermédio do projeto Periferia Sustentável, o Instituto Favela da Paz tornou-se a primeira microgeradora de energia dentro de uma comunidade do estado de São Paulo, a segunda no Brasil, está entre os 17 projetos mais sustentáveis do mundo. Dentro do Instituto Favela da Paz existem 22 painéis de energia solar instalados, esse sistema torna o lugar totalmente autosustentável com energia limpa.

“Este conteúdo faz parte da campanha Planeta Território, uma iniciativa do Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS)

Digiqole Ad
+ posts

Repórter do Espaço do Povo, é cria do Jardim Ângela, formado em jornalismo e tem vivência em redação e assessoria de imprensa.

Relacionados