Mulheres ainda são minoria em cargos de chefia

Por Keli Gois 

A inserção da mulher no mercado de trabalho ainda é um problema no Brasil e esse cenário é ainda mais injusto quando o valor pago pela mesma função, desempenhada por homens e mulheres, é diferente. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) revela que as mulheres ganham até 23% menos que os homens. Outro dado chocante é o tempo que elas levarão para conseguir a equiparação salarial com os homens, que segundo o Global Gender Gap Report de 2021, é de 267 anos, atuando nas mesmas funções e tarefas. 

 

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2019, a população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres e, diante de dados como esses, uma conta não fecha: se existem mais mulheres que homens, por que elas ainda são minoria no mercado de trabalho? 

 

São reflexões como essa que Liliane Rocha, CEO e fundadora da Gestão Kairós – consultoria de sustentabilidade e diversidade, leva às empresas para promover a inclusão de mulheres, negros e pessoas trans no mercado de trabalho. “A partir dessa geração de conhecimento e entendimento — já que muitos dizem não se dar conta de que há esse destoamento tão grande entre a sociedade brasileira e o quadro funcional de suas empresas — as pessoas entendem essa necessidade, e podemos falar da inserção e promoção de mulheres”, explica Liliane.

 

A partir do entendimento dessa distância que há entre homens e mulheres no quadro funcional na liderança e nos salários, a empresa, a sociedade ou o poder público, podem trabalhar ações afirmativas focadas na redução dessa desigualdade. É possível, segundo ela, gerar programas ou iniciativas nas quais haja esse comprometimento na empresa. “Não se faz um país mais justo só com a metade da sociedade. Nós só construímos um país potente, desenvolvido e competitivo, trazendo toda a sociedade brasileira. Nós estamos falando de igualdade, equilíbrio e equidade. Isso é fundamental”, finaliza. 

 

Para amplificar as vozes das mulheres na busca por autonomia econômico-financeira, a Rede Mulher Empreendedora (RME), primeira rede de apoio a empreendedoras do Brasil, tem buscado fomentar o empreendedorismo, a empregabilidade e a inserção de mais mulheres na carreira de tecnologia. A rede oferece diversos programas para apoiar aquelas que estão em busca do emprego formal por meio da capacitação, simulações e acesso a plataformas com oportunidades de emprego. “Acreditamos que uma mulher com autonomia econômica, dona do seu dinheiro, da sua vida e de suas decisões, gera ainda um impacto social na família, na educação dos filhos e na comunidade onde vive. ”, afirma Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora. 

 

Segundo Ana, mudar este panorama de desigualdade de gênero é um trabalho árduo e de longo prazo. “Precisamos, antes de tudo, entender as desigualdades históricas e construir uma jornada social mais justa e mais inclusiva, que não trate a maioria da população como se fosse um ser humano de segunda classe”, explica. 

 

Dados do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) 2015, revelam que 63% dos domicílios abaixo da linha de pobreza são chefiados por mulheres, que representam a faixa mais baixa de renda. A pandemia trouxe novos agravantes a este cenário da pobreza dos lares comandados por elas. Em 2021, a taxa de desemprego brasileira atingiu o recorde de 14,7% (14,8 milhões de pessoas), de acordo com o IBGE. Comparada entre homens e mulheres, a taxa de desemprego feminino (17,9%) foi maior que a masculina (12,2%). Ou seja, as mulheres que já representam boa parte do sustento das famílias brasileiras, são as mais pobres e ainda têm de enfrentar um cenário de maior desemprego.

 

Rejane Santos, CEO do Emprega Comunidades, conhecido como LinkedIn da Favela, vem trabalhando para promover a inclusão do público feminino no mercado de trabalho, a começar por sua própria empresa: dos seus 17 funcionários, 16 são mulheres. “As empresas têm uma responsabilidade não só financeira, mas também social com o país. O sexo e a maternidade não podem ser um indicativo negativo na empregabilidade. ”

 

Segundo Rejane, além de capacitar essas mulheres e conectá-las com as empresas, é necessário trabalhar também o empoderamento, para elas terem um diferencial ao entrar no mercado de trabalho. “O que nós temos feito é a conexão com as empresas para mostrar todo o processo de formação e preparo das candidatas para as vagas para que as empresas entendam o potencial de crescimento dessas mulheres. Nós trabalhamos também a questão de empoderamento, do compromisso e da responsabilidade para que elas tenham um diferencial no mercado de trabalho. ”, finaliza.

 

Foto: Reprodução

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