A inclusão de mulheres negras no mercado de trabalho

Por Rejane Santos

A busca pela  igualdade e o enfrentamento das desigualdades de gênero fazem parte da nossa história. Como mulher negra e periférica, faço parte de uma geração de mulheres e que têm se dedicado muito para construir um mundo mais justo buscando a equidade de gênero, respeito às diferentes orientações sexuais; igualdades raciais e étnicas, que façam com que as diferenças de cor e origem também sejam apenas mais uma expressão da rica diversidade humana; igualdades de oportunidades para todas as pessoas e que não seja uma forma de discriminação. 

Há anos, o racismo estabelece a inferioridade social dos segmentos negros da população em geral e das mulheres negras em particular, o fator de divisão na luta das mulheres pelos privilégios que se instituem para as mulheres brancas.

A nossa luta contra a opressão de gênero e de raça vem moldando novos contornos para a ação política feminista e anti-racista, enriquecendo tanto a discussão da questão racial, como a questão de gênero na sociedade brasileira.

Na desigualdade por gênero e raça, não há novidade sobre o fato das mulheres negras ganharem menos que os homens em todos os estados brasileiros e em todos os níveis de escolaridade. Elas saem do mercado mais tarde, se aposentam em menores proporções que os homens e há mais mulheres negras idosas que não recebem nem aposentadoria, nem pensão. Isto reflete as condições em que estas mulheres estão no mercado brasileiro. 

Meu propósito no Emprega Comunidades vai muito além de incluir a mulher negra no mercado de trabalho, ele está relacionado a levar dignidade, independência financeira, inclusão social. É dar liberdade para essa mulher que já é marginalizada, considerada incapaz e pré determinada a vagas no mercado de trabalho que estão disponíveis para pessoas brancas, preferencialmente homens. 

Quando analisamos os índices por escolaridade ligada ao rendimento do trabalho, vemos que as diferenças entre homens e mulheres são expressivas. Mesmo que ambos tenham a mesma média de anos de estudo, os homens ganham mais que as mulheres. Essa desigualdade de rendimentos se mantém em todos os estados e regiões, e em todas as classes de anos de estudo: tanto as mulheres com grau de escolarização igual ou inferior a 3 anos de estudo ganham menos que os homens com o mesmo grau de escolaridade; quanto as mulheres com maior grau de escolarização (11 anos ou mais de estudo) ganham menos do que ganham os homens desta faixa. 

A maior inserção das mulheres negras no trabalho doméstico revela um traço desvantajoso na situação em que estas se encontram. O emprego doméstico é uma das formas mais antigas de trabalho assalariado, exercido pelos trabalhadores masculinos e femininos no decorrer dos últimos dois séculos. Como o serviço doméstico remunerado é um espaço de absorção de mão-de-obra feminina, os níveis de remuneração nessa atividade são inferiores aos observados para o conjunto dos trabalhadores.

É preciso superar essas desigualdades, gerando oportunidade de qualificação profissional e programas nas empresas para contribuir com a  inclusão das mulheres e valorização dessas profissionais.  Nós, do Emprega Comunidades, temos construído pontes, criamos oportunidades, conectamos  pessoas e  disseminamos a inclusão produtiva, inserindo todos no mercado de trabalho. Tudo isso porque acreditamos que só vamos vencer o preconceito e a pobreza por meio da inclusão e da geração de renda.

Foto Cria Brasil

Rejane Santos 

Empreendedora social,  fundadora do Emprega Comunidades, líder comunitária, palestrante, membro da diretoria da  União dos  Moradores e do Comércio de Paraisópolis. Ex presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis, entidade que promove  iniciativas voltadas para o empoderamento feminino. Co fundadora do G10 Favelas e coordenadora do comitê Comunidades e bairros do grupo Mulheres do Brasil.

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