Paraisópolis: será que o perigo mora aqui?

Índices de roubos em diferentes bairros superam números da segunda maior comunidade de São Paulo e revelam que problemas de segurança estão espalhados pela cidade

Por Keli Gois

Ao contrário do que costuma-se ver na TV, nos jornais, no rádio e em outros veículos de comunicação, a comunidade de Paraisópolis, instalada próximo ao bairro do Morumbi, uma das regiões mais nobres da capital, está longe de ser um dos locais mais perigosos para viver, trabalhar, estudar ou passar.

Isso é o que apontam os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), que revelam que de janeiro a agosto deste ano mais de 25 mil roubos foram registrados em DPs da Zona Sul, e destes, apenas 1.268 foram registrados na 89° DP, delegacia que abrange a região de Paraisópolis, um número considerado baixo se comparado ao bairro vizinho, Parque Santo Antônio, que registrou 2.544 casos na 92° DP.

Apesar dos números apontarem áreas mais violentas, Paraisópolis ainda carrega o estereótipo de uma comunidade perigosa. Segundo moradores, alguns prestadores de serviço como taxistas, motoboys, entre outros, se recusam a entrar na comunidade, e as justificativas são sempre as mesmas: “Paraisópolis tem muito trânsito”, “Os moradores são folgados”, e tantas outras, que no fundo, querem dizer a mesma coisa: as pessoas têm medo de entrar em Paraisópolis.

Mapa Roubos

“Eu fiz uma compra no supermercado e o taxista se recusou a entrar aqui porque seria assaltado. Ele me disse que se fosse próximo até poderia me trazer, mas não aqui dentro. Entrei em um acordo com ele, que me deixou perto, e eu vim sozinha carregando as compras”, explicou. a estudante Luana dos Santos Ferreira, 20.

O que aconteceu com Luana é uma realidade comum para muitos moradores, que têm de lidar diariamente com o preconceito de viver em uma comunidade.

Em Paraisópolis, assim como em outros bairros, há violência e criminalidade, mas, sobretudo, há lugares bons e seguros. Há emprego e oportunidades e, principalmente, famílias e pessoas de bem. A dona de casa Elisa Gonçalves, 39, tem orgulho de viver em Paraisópolis, ela conta que já morou em outros lugares e que a criminalidade não escolhe local para acontecer. “Eu moro aqui há mais de 30 anos. Em Paraisópolis têm famílias descentes e trabalhadoras. É claro que têm algumas pessoas que partem para o lado errado, mas isso tem em qualquer lugar”, defendeu Elisa.

Para desmistificar a visão que as pessoas têm de Paraisópolis e mostrar o momento de transformação que a comunidade vive, Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis (UMCP), explica que criou o roteiro “Paraisópolis das Artes” para que as pessoas conheçam a comunidade como ela realmente é. “Daqui há alguns anos, ao passar pela Av. Giovanni Gronchi, as pessoas vão olhar para baixo e pensar em Paraisópolis não como uma favela, mas como uma nova Paraisópolis”, se orgulhou o presidente.

Segundo Gilson, apesar de todo o preconceito, a comunidade representa oportunidade para muitas pessoas. Com 8 mil comércios, 21% dos moradores trabalham na própria comunidade, que emprega também moradores de outras regiões, como a professora e bailarina Mônica Tarragó, que sai do Panamby todos os dias para ensinar balé para crianças e adolescentes na comunidade.”Eu trabalho em Paraisópolis todos os dias e nunca tive o menor problema. Eu me sinto mais segura em Paraisópolis do que no centro da cidade”, revelou.

Morador da comunidade desde os 5 anos, Gilson revela o orgulho em viver na segunda maior comunidade de São Paulo e ver todas as transformações que Paraisópolis passou.. “Em toda a cidade existem problemas de segurança, mas eles precisam ser combatidos. Paraisópolis como “favela” carrega uma série de preconceitos que nem sempre são reais, e que, na maioria das vezes, só existem na cabeça das pessoas”, finalizou.

Distritos com mais ocorrências

Ranking

Reforço Policial na região

Recentemente, a região do Morumbi passou a contar com mais 160 policiais. Esse efetivo, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública, irá atuar, principalmente, nas avenidas Morumbi e Giovanni Gronchi, na Rua Dr. Francisco Thomaz de Carvalho, chamada de ‘Ladeirão do Morumbi’, região conhecida pelos constantes assaltos.

Essa sensação de segurança que os moradores do Morumbi terão não é a mesma que os moradores dos bairros do Campo Limpo, Capão Redondo e Parque Santo Antônio, também na Zona Sul, têm. Os bairros sofreram diversos arrastões e têm índices de roubos mais altos que em Paraisópolis, região do Morumbi, e a sensação, segundo eles é de total insegurança.

Questionada sobre o critério utilizado para a distribuição de policiais nos bairros, a Polícia Militar informou que medidas específicas para a redução do índice criminal nesses locais também estão sendo tomadas, como nos bairros do Parque Santo Antônio e Jardim São Luis, por exemplo. “O policiamento na região foi intensificado com o intuito de coibir roubos e outros delitos e restaurar a sensação de segurança na comunidade local”, afirmou o comandante do 1º BPM/M – Marechal Castello Branco, Tenente Coronel PM Cássio Pereira Pederiva, que destacou uma diminuição de roubos nos bairros mencionados.

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