Mulheres na Logística

Em decorrência do coronavírus em março de 2019 e as medidas restritivas decretadas para diminuição nas mortes por Covid-19,  o comportamento de consumo  da população teve que mudar, compras que eram realizadas frequentemente de forma física, migraram para as compras on-line, tendo um crescimento rápido e acelerado, forçando assim a expansão do setor da logística por todo o mundo.

Segundo o Banco Nacional de Empregos (BNE), o setor logístico abriu mais de 9 mil vagas de trabalho, ainda em conjunto com outra pesquisa da Associação Brasileira da Indústria (ABIFER), no ano de 2020 houve a contratação de  profissionais do sexo feminino e dentro dos programas de jovem aprendiz  do setor, 50% eram mulheres.

Em nenhuma das metas de vida da motorista Noemi Diniz, de 33 anos, e mãe de um adolescente, ela tinha intenção de ser motorista de caminhão e trabalhar com cargas valiosas como os produtos de e-commerce, não estavam incluídas nas profissões que procurava para compor como uma segunda renda. Antes de toda essa rotina de ficar por horas sentadas atrás do volante de um caminhão, Noemi trabalhava sentada por horas, e muitas vezes horas extras, para atender os clientes do supermercado, onde trabalhava como operadora de caixa. Apesar de tanto trabalho, o retorno financeiro não era equivalente a tanto esforço que fazia diariamente, até aos finais de semanas e feriados.

Em 2014, ela ficou viúva e a perda do marido a deixou sem rumo e sem direção para sustentar seu filho que era pequeno na época. Junto com o marido, eles compunham a renda da casa e assim dava para segurar as pontas, mas a triste fatalidade que abateu o lar da motorista de caminhão, que se viu forçada a  aumentar a renda ou ter uma segunda opção, para manter ela e o filho. E foi pensando sobre como poderia aumentar os rendimentos, sem perder a oportunidade de ver o filho crescer, que ela decidiu ir além, e fazer algo totalmente fora da escolha de profissão que seria o “normal” para as mulheres.

Com toda atenção, Noemi dá ré olhando pelo retrovisor do caminhão,  olhos bem delineados, bem  maquiada e cabelos escovados, ela segura o volante do caminhão com firmeza e muita vontade de vencer, carregando diariamente em média 800 produtos de e-commerce que são descarregados de segunda a sábado, no Centro de Distribuição da empresa de logística Favela Brasil Xpress, localizada na zona Sul da capital Paulista, no bairro de Paraisópolis. 

A atual profissão como motorista de caminhão foi um estímulo que recebeu do pai que atua como motorista de caminhão basculante. A compra do veículo foi feita com o dinheiro da rescisão do seu antigo emprego como operadora de caixa. Ela não pensou duas vezes quando percebeu que ramo da logística lhe daria autonomia para trabalhar, além do aumento da renda familiar,  também possibilitou ver o crescimento do filho e pagar as contas com folga. Segundo ela, o filho se sente todo orgulhoso ao ver a mãe dirigindo o caminhão, e sempre que é possível, ela leva ele para ver a rotina de trabalho.

 A ajuda da mãe nos momentos difíceis cuidando do seu filho foi imprescindível  para que ela pudesse trabalhar e se estabilizar financeiramente. Apesar de ter conseguido se estabilizar nessa área, diz que ainda há o preconceito de muitas pessoas que acham que esse tipo de profissão como motorista de caminhão, seja apenas para homens e não para mulheres. Ela diz não se importar e sabe que essa foi a melhor escolha que poderia ter feito. Sua rotina com o caminhão começa às 3 horas da manhã carregando o veículo e descarregando às 8h, na zona sul de São Paulo,  e não para por aí, após esse primeiro descarregamento ela parte para o interior de São Paulo, Sorocaba, para mais um carregamento de outra empresa de logística e refaz todo o processo de descarga em outro centro de distribuição. Em apenas 1 ano atuando na nova profissão, diz estar realizada e já faz planos para quem sabe abrir uma empresa de caminhões para realizar frete.

Foto André Silva/ Cria Brasil

Diferente de Noemi, as irmãs Karina Gonçalves dos Santos, 26, solteira, e Márcia dos Santos Gonçalves, 35, casada juntaram o conhecimento que adquiriram nos 6 anos como monitoras de perua escolar serviu como estímulo para que  elas saíssem da área da recreação infantil, para ingressarem no ramo da logística. Todo o trabalho é feito pelas duas, com sincronismo e organização desde os pacotes maiores até o processo de roteirização dos caminhos que elas percorrem diariamente com o bom e velho Monza do ano de 1996, 1.8. Elas aprenderam num curso rápido dado pela própria empresa de logística que hoje elas prestam serviço, todo o processo de organização das mercadorias e de como montar o roteiro para as entregas.

Para elas, essa nova rotina possibilitou a liberdade de conquistar a independência financeira e serem as motoristas das suas próprias histórias.

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