A origem da palavra favela

Por Gideão Idelfonso

Favela. Uma palavra com significados e sabores diversos tanto para o indivíduo como para o coletivo. Os significados para a Sophia de 26 anos que nasceu em Sol Nascente, a maior favela de Brasília, pode não ser o mesmo para a Elis também de 26 que mora em Coroadinho no Nordeste.
A construção histórica dessa palavra me parece em certa medida confusa, acredito que seja mais pelo dom do ser humano que adora usufruir: o de contar histórias. O que parece consenso entre as fontes é a sistematização do nome ligado à Guerra de Canudos, um embate armado entre o Exército Brasileiro e membros da comunidade religiosa chefiados por Antônio Conselheiro em Canudos na Bahia. 
A quem diga que foi ao término da guerra que soldados voltaram para a capital na época, o Rio de Janeiro em busca de falsas promessas de moradias, se assentaram no morro hoje conhecido como Providência. Esses soldados eram acompanhados por vivandeiras baianas que traziam consigo o sentimento de pertencimento da sua origem. Os morros no arraial de canudos possuíam uma planta, a faveleira, favela ou mandioca-brava que produz uma variedade da farinha muito proteica e que possui favos, muito conhecidos dessas mulheres.
Por outro lado, há quem diga que o exército brasileiro chegando à Bahia para o combate se deparou com Morros de Favelas, locais que foram propícios para colocar canhões para atacar e derrotar os inimigos. O morro da Providência tinha formas parecidas com as da Bahia, eles passam então a chamar de Morro da favela que posteriormente volta a ser Providência.      
A ação de jornalistas e escritores  como o mais destacado e aclamado pela crítica na época Euclides da Cunha, ajudaram a reafirmar a simbologia em torno do nome, inclusive dando base para consolidar estigmas atuais. Cunha, destaca os sertanejos como sendo uma raça inferior, primitiva, perigosa. Os mesmos sertanejos que ao longo do tempo se fincaram nas grandes favelas brasileiras. O retrato em comentário feito por ele evidentemente que foi inferior, perigoso e primitivo. 
Ao formar o imaginário coletivo sobre o nome da favela, controvérsias e nebulosidades estão presentes. Antes da denominação já havia existido quilombos, cortiços, que se assemelham com as atuais favelas, nomes que não se construíram no imaginário popular.
Uma palavra de relativos mistérios e razões ocultas, nome que se ressignificou além de seus mitos e lendas. Resistência como a planta em condições climáticas muito severas. Estratégia. Inteligência. Sagacidade que se revela um Brasil que não conhece ou reconhece a favela. 

 

Gideão Idelfonso

Cria de Paraisópolis, bacharel em Lazer e Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Pesquisador com foco na periferia e sua dialética com o Lazer e Turismo. Teve contato com projetos de impacto social em Paraisópolis e em áreas da Zona Leste.

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