Síndrome do Impostor

Por Débora Pereira 

Já olhou para as suas conquistas pessoais e não se sentiu merecedor delas, ou começou a pensar que talvez o que te fez chegar aonde chegou foi um puro golpe de sorte? Ou então, você pensa que todas as suas conquistas vêm de um grande esforço e de uma preparação antecipada, por isso você chegou lá, mas isso não tem a ver com o fato de você ser inteligente o suficiente e, sim, porque há muito suor por trás de tudo. As pessoas dizem que você é muito competente e inteligente, mas você não se sente assim, sempre acha que precisa melhorar e esse “melhorar” precisa vir com uma carga de auto exigências e perfeccionismos. O topo da sua montanha é sempre o mais alto e você só se sentirá bom o suficiente se chegar lá e, quando você chega lá, acredita que conseguiu porque é carismático, as pessoas gostam de você, você foi indicado, foi sorte, você estava no lugar certo, com as pessoas certas, na hora certa. Enfim, percebe que nesse contexto não há atribuições das suas conquistas porque você é realmente bom no que faz e isso basta? 

Você estuda, trabalha, se esforça, se joga no mercado de trabalho, começa a ser reconhecido e elogiado pelo o que faz, mas ainda assim se sente um fracasso e começa a adiar outros projetos com medo de ser desmascarado, porque, no fundo, no fundo, você nem é tão bom assim como os outros pensam ou dizem a seu respeito, muito pelo contrário, você se cobra muito para se tornar bom e muitas vezes se sente envergonhado de ser como é. Se você se sente assim, você pode sofrer da Síndrome do Impostor. 

Síndrome do impostor não é um transtorno reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, mas, sim, um fenômeno psíquico que podemos identificar como um conjunto de fatores que afetam os indivíduos causando uma desordem cognitiva, com pensamentos distorcidos em relação a si mesmo. A síndrome do Impostor surgiu a partir de uma pesquisa realizada em 1978, por  duas psicólogas norte-americanas, Pauline Clance e Suzanne Imes, a pesquisa foi feita com 150 mulheres consideradas bem sucedidas profissionalmente. Porém, anos mais tarde outros estudiosos fizeram pesquisas acerca do fenômeno do Impostor, com pessoas bem sucedidas do campo acadêmico e profissional, de ambos os sexos, sendo constatado que tanto homens quanto mulheres são afetados pelo fenômeno. Portanto, qualquer pessoa pode vir a desenvolver o fenômeno de síndrome do impostor, em qualquer idade, mas é comum em pessoas no início de carreira, ou em que constantemente suas habilidades são avaliadas, como quem inicia um novo projeto, por exemplo. Por ser algo que provém da falta de reconhecimento existencial e de necessidades de validação no âmbito familiar e profissional, pode ser que esse fenômeno seja comumente relacionado às mulheres que são a maioria quando falamos de pressão social para serem aceitas e, pasmem, quanto mais inteligentes e bem sucedidas elas são, mais afetadas elas se sentem por tudo que se tornaram. 

O perfeccionismo e a máxima auto exigência na hora de realizar uma tarefa podem estar ligadas a esta síndrome, tudo é feito com uma grande carga de esforço que a faz sofrer e se sentir indigna de reconhecimento, ou atribui o reconhecimento a um fator acidental, caso ocorra alguma falha nesse processo, ela se cobra como se a falha lhe custasse tudo o que já realizou e aí, sim, todos a veriam como uma farsa. 

Diante das tarefas, a pessoa que sofre com a síndrome do impostor pode se inclinar a desenvolver dois comportamentos:

1- excesso de preparo: existe uma necessidade em se antecipar muito antes do previsto, ou seja, por medo de ser descoberto como uma fraude, essa pessoa passa a iniciar os seus esforços muito antes da entrega dos resultados, o trabalho árduo antecipado faz com que ela empregue mais tempo em algo que não custaria tanto para executá-lo, sendo assim, o indivíduo passa a se dedicar em demasia no trabalho ou nos estudos, podendo vir a se tornar workaholic. Esse comportamento tem por objetivo a busca por aprovação de seus superiores e, ao atingir o resultado, a satisfação é passageira e o empreendimento volta a se tornar necessário para uma nova validação. Por conta dessa árdua dedicação o sujeito acredita que o resultado só foi possível porque houve grande investimento de sua parte e não porque ele de fato é capaz de fazer o que fez, formando assim o artifício do impostor; 

2- procrastinação: se caso o impostor optar por procrastinar, deixando a tarefa para a última hora e, mesmo assim, ele entrega o que lhe foi atribuído em cima da hora, mas com sucesso, ele entende que o que lhe ajudou foi sorte e mais uma vez acredita que o seu feito tem uma causa externa e não de sua própria capacidade em realizá-lo. Resumindo, seu sucesso nunca provém de si mesmo, e sim ao acaso, ao esforço em excesso e antecipatório ou a sorte. 

Principais sintomas: 

Quem sofre do fenômeno síndrome do impostor, possui um discurso auto depreciativo; autocrítica excessiva; sentimento de inferioridade; fuga de situações que possam colocá-la em evidência como uma apresentação, por exemplo; ansiedade; procrastinação; depressão; distorção da realidade em relação a autoimagem; necessidade de se esforçar demais; dificuldades em aceitar elogios; auto-sabotagem; podendo vir a recusar futuros projetos por se sentir incapaz de realizá-lo; necessidade de aceitação e de agradar à todos; vergonha de ser quem é, ou do que faz; culpa por achar que não merece o mérito que lhe for atribuído; e medo de se expor com receio do que os outros irão pensar a seu respeito. 

Mas o que fazer então?

Para tratamento, a psicoterapia é recomendada para desenvolver o autoconhecimento e aceitação das próprias habilidades, a fim de diminuir a sensação de ser uma fraude. Além disso, ter um mentor, conversar com um amigo para dar um feedback, aceitação dos erros e acertos, respeitar os próprios limites e reconhecer as suas conquistas e talentos, contribui para que esses sintomas da síndrome sejam diminuídos. 

Por fim, você não é uma farsa!

Débora Pereira

Psicóloga, psicoterapeuta, palestrante e desde 2021 atua como analista de RH no Emprega Comunidades de Paraisópolis.

Débora Pereira

Psicóloga, psicoterapeuta, palestrante e desde 2021 atua como analista de RH no Emprega Comunidades de Paraisópolis.

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