A banalidade do mal nas ações policiais nas periferias

Por Gideão Idelfonso

As ações policiais nas periferias são frequentemente marcadas por tensões, mortes,  balas perdidas e raivas. Ao passo que é bem comum quando se pergunta aos moradores de regiões periféricas sobre a polícia e suas abordagens violentas e seletivas a resposta tende a ser a mesma: truculência, desrespeito e desumanidade.
Todos nós, favelados, temos alguma história nada agradável a contar sobre a polícia brasileira e como Michel Foucault de nada foi seguido ao orientar que “o Estado não é para operar a morte, é para cuidar da vida”. Ao ilustrar esse fato somente em 2021 segundo estudo do Instituto Fogo Cruzado, 100 pessoas foram atingidas por balas perdidas no Rio de Janeiro.   
Adiante a banalidade do mal surge como uma teoria apresentada pelos feitos de Hannah Arendt, judía, que viveu entre 1906-1975, filósofa e escritora foi responsável por cobrir um dos julgamentos mais emblemáticos da história o de Adolf Eichmann, chefe da Seção de Assuntos Judeus no Departamento de Segurança de Adolf Hitler, ele que não tinha uma patente alta e era responsável em um primeiro momento em buscar dados de judeus em regiões conquistadas e criar planos de emigração forçada, além de congelar seus bens, portanto um burocrata da morte.
No passar dos dias todas as deportações e logísticas de transportes dos judeus para os campos de concentração foram supervisionados por ele, o que deixa claro sua intenção desmedida em perseguição aos judeus. E quando capturado na Argentina, anos depois do holocausto, foi para o banco do réus e condenado a forca por roubos e pela morte de milhares de judeus em campos de concentração.  
Adolf Eichmann, durante seu julgamento dizia somente cumprir ordens, o que mostrou a Hannah Arendt sua incapacidade de um pensamento mais sofisticado, crítico. A mediocridade de um homem comum, capaz de ações cruéis, crimes contra a humanidade sem a capacidade de raciocinar sobre seu ato, um homem normal que praticou o mal em sua forma institucional e hierárquica.  
Imagino que se Hannah Arendt fosse viva não se impressionaria com as forças secundárias de controle social e suas ações, homens comuns, não monstros ela provavelmente diria que são capazes de confundirem guardas-chuvas, furadeiras, saco de pão com uma arma de fogo, homens tutelados pelo Estado que matam jovens em bailes funks, amarildos, que matam jovens rendidos. Tudo isso se tornou normal, só mais alguns casos que continuam a reproduzir a morte como promoção institucional. É uma análise real do brasil que vivemos. A violência policial é uma face da violência histórica brasileira, no qual foi forjada no fogo, na bala e no sangue.
É bem verdade que a polícia brasileira é a que mais mata e a que mais morre na falsa sensação da busca de ordem, disciplina e que está restrito a certos grupos, a segurança pública não tem conseguido avançar diante dessas problemáticas. A banalidade do mal acontece quando esses indivíduos que detém a vida nas mãos deixam de pensar de forma justa no seu agir. Esses homens comuns que não utilizam desses artifícios reflexivos estão sujeitos a cometerem atos horrendos e todos nós corremos o risco de quando não utilizamos da racionalidade de nos tornarmos “monstros” iguais.

Gideão Idelfonso

Cria de Paraisópolis, bacharel em Lazer e Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Pesquisador com foco na periferia e sua dialética com o Lazer e Turismo. Teve contato com projetos de impacto social em Paraisópolis e em áreas da Zona Leste.

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