Moradores de Paraisópolis e bairros vizinhos mobilizam-se para preservação de área verde

Comunidade não tem equipamento público voltado ao lazer  (Foto: Francisca Rodrigues)
Comunidade não tem equipamento público voltado ao lazer (Foto: Francisca Rodrigues)

São Paulo precisa de mais verde. Paraisópolis carece de um equipamento público voltado ao lazer e acessível às pessoas, proporcionando, assim, maior qualidade de vida a jovens, crianças e idosos. A construção de um parque público, que pode ser conquistado ampliando-se um terreno já considerado de preservação ambiental, é a solução para os esses anseios da comunidade de Paraisópolis e seu entorno.

Uma grande área verde, de vegetação rica e um dos últimos pontos de Mata Atlântica na cidade, com nascente, córrego e um eucaliptal, com topografia acidentada, e solo frágil para suportar grandes obras. Junto a esse berço verde, há um terreno privado, com 27.000 m², sem construções, com árvores esparsas e topografia plana. “Integrar esse terreno à área já considerada de preservação ambiental e a outro braço dessa área, com mais 5.000 m², de forma que esse todo torne-se um parque para a comunidade é o nosso objetivo”, destaca Isabel Fay Affonso, arquiteta e uma das coordenadoras da Associação dos Amigos do Jardim Vitória Régia.

Gilberto Natalini, Isabel Affonso e Gilson Rodrigues no programa Linha Direta, na Rádio Claro Nova Paraisópolis  (Foto: Francisca Rodrigues)
Gilberto Natalini, Isabel Affonso e Gilson Rodrigues no programa Linha Direta, na Rádio Claro Nova Paraisópolis (Foto: Francisca Rodrigues)

Moradores de diferentes condomínios, de Paraisópolis e outras entidades estão unidos na defesa da constituição do Parque de Paraisópolis. O desejo é antigo. Em 2004, as comunidades vizinhas ao terreno (Parque Panamby, Jardim Vitória Régia, Paraisópolis e proprietários de áreas particulares) acordaram com a Prefeitura de São Paulo a implantação de uma avenida, hoje já construída, a Avenida Hebe Camargo. Em respeito ao acordo, parte da área particular foi destinada à Prefeitura para construção de habitações de interesse social, enquanto outra parte, do outro lado da avenida em questão, seria para a ampliação do Parque de Paraisópolis. A causa tem conquistado apoiadores. Entre eles o vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da Frente Parlamentar pela Sustentabilidade.

Cada vez com maior evidência na mídia, Paraisópolis é a segunda maior comunidade de São Paulo, somando cerca de 100 mil habitantes. Segundo Gilson Rodrigues, presidente da União de Moradores e do Comércio da comunidade, o local vive um novo momento, que inspirou a criação do projeto Nova Paraisópolis, que quer transformar a favela em bairro.”A criação de um parque público, que disponibilize alternativas de lazer, esporte e integração social naquela área vem reforçar a reivindicação atual de tornar Paraisópolis um bairro, com todos os recursos e equipamentos que um bairro precisa e merece”, afirma Gilson.

Um espaço democrático

O ponto-chave da proposta de ter na região um parque é combinar preservação ambiental com função social. Ao consolidar toda a área – parte já preservada, mais uma área privada de 27.000m² e sem construções, mais terreno de 5.000m² já doado para a construção do Centro Comunitário de Paraisópolis – em um parque aberto, a cidade ganha um espaço verde, para o lazer e o esporte.

Segundo urbanistas, essa é a única área do Morumbi hoje que permite a instalação de um equipamento público dessa natureza. “Ao se integrar toda essa área, que soma em torno de 95.000m², em uma ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental) que abrigue um parque, a cidade terá um espaço de uso adequado às duas zonas presentes no local, uma de uso estritamente residencial e outra de interesse social”, destaca Diana Teresa Di Giuseppe, arquiteta urbanista que concluiu recentemente um estudo sobre o terreno. “Além de criar um ambiente necessário ao lazer e democrático, a instalação de um parque é coerente com o processo de reurbanização proposto para  Paraisópolis”, acrescenta Diana.

“Além da questão clara de preservação ambiental, um parque público é sempre bem-vindo em uma cidade cujas opções de áreas de lazer de qualidade estão concentradas em algumas regiões. Paraisópolis merece ter um local de lazer. Um bom parque, com recursos e de uso público, desperta nas pessoas um sentimento de preservar o que é seu; preservar o que eles usam e, portanto, querem manter em boas condições”, destaca André Graziano, arquiteto e paisagista.

Sérgio Saraiva Martins, assessor de urbanismo do gabinete do vereador Gilberto Natalini, também defende a ampliação da área ambiental existente e construção do Parque de Paraisópolis. “Trata-se de uma requalificação urbana, de caráter social, que passará a conferir uma finalidade social a um ambiente já preservado”, explica ele.

Mais verde para a cidade

São Paulo conta atualmente com 2,6m²/habitante de áreas verdes, enquanto a recomendação da OMS/ONU é de 12m²/habitante. Uma cidade onde o verde e o lazer está mal distribuído, um equipamento que possa conciliar as duas coisas é uma necessidade.

“Queremos um espaço que abrigue instrumentos sociais – creche, atividades esportivas e voltadas às diferentes faixas etárias, o Centro Comunitário de Paraisópolis e preserve a riqueza de flora e fauna existente”, enfatiza Isabel Affonso.

Reserva remanescente de Mata Atlântica, o local favorece a criação de trilhas para cooper e caminhadas, recreação para a terceira idade, com lago e vegetação exuberante.

O local tem rica fauna, com garças, sabiás-laranjeiras, gavião-de-cabeça-cinza, periquetos verdes, macuco, anu-branco e bem-te-vis, entre outros. A flora se expressa na presença de jequitibás, passuarés, jerivás, pau-jacarés, cafeeiro, pau-brasil e muitas outras.

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Jornalista, produtora cultural, diretora de comunicação da Cria Brasil, agência de comunicação de território de favela que surgiu com o compromisso de gerar impacto social positivo nas comunidades do país.

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