Praça ou pista de Skate?

Por Francisca Rodrigues
Pista de skate do Brejo (Foto: Francisca Rodrigues)
Pista de skate do Brejo (Foto: Francisca Rodrigues)

Diante da falta de opções de espaços públicos para o lazer na segunda maior comunidade de São Paulo, uma das opções encontrada por moradores e  skatistas foi compartilhar uma pista de skate localizada na região do Brejo. Dentre as muitas funções que a pista tem, duas delas são receber idosos, que costumam jogar dominó no local durante o dia, e  praticantes de skate, que  reúnem-se à tarde.

 A divisão acontece naturalmente, os frequentadores do local entendem que Paraisópolis não tem praças ou parques para comportar a quantidade de pessoas que precisam praticar alguma atividade esportiva, cultural ou simplesmente ter um momento de lazer com a família ou amigos.

Construída há dez anos, a pista do Brejo foi a primeira a ser instalada na comunidade. De acordo com Edvaldo Felisberto, Ed Skate, a ideia de  construir uma pista em Paraisópolis surgiu a partir de sugestões de moradores do Morumbi, pois como os moradores de Paraisópolis não tinham lugar para praticar o esporte andavam nas ruas do bairro vizinho.

Mesmo em condições precárias, a pista é um dos pontos de encontro de skatistas de Paraisópolis e do Morumbi, e também recebe visitantes de outrasregiões. ” Eles vêm aqui para treinar e conhecer um pouco da gente. Eles querem conhecer a gente e o espaço em que aprendemos. Então, existe uma troca, o que eles aprendem ensinam para nós e o que nós aprendemos ensinamos a eles”, afirma Ed.

O que poucos sabem é que em Paraisópolis existe uma área verde cercada por grades  que poderá abrigar  um Parque que levará o nome da comunidade. O que  impede  que a área  de 60 mil m² seja liberada é uma burocracia que se arrasta há meses. Também está sendo construído na região do Grotão o Parque Sanfona, que até o momento não tem previsão para entrega. Enquanto isso, moradores têm que procurar outras alternativas. Quando não usam quadras das escolas da região ou as ruas, tentam adequar os poucos espaços livres na comunidade.

Pista de skate do Grotinho (Foto: Keli Gois)
Pista de skate do Grotinho (Foto: Keli Gois)

Paraisópolis também  tem duas pistas de skate, uma localizada no Brejo e a outra  no Grotinho, mas somente a do Brejo pode ser utilizada. Como se não bastasse ter poucas opções de lazer, uma das pistas de skate que foi construída para este  público virou um depósito de lixo.  Caixa d´água, móveis velhos, entre outros, ocupam um espaço que deveria ser para a diversão. 

A pista de skate entulhada fica na região do Grotinho, próxima a uma quadra esportiva e um espaço que deveria receber um cinema a céu aberto,que também está deteriorado.Com a pista sem condições de uso, resta aos praticantes do esporte procurar outros locais. 

Batizada de Praça Sul, a pista  improvisada que a galera do skate costuma  se encontrar era um canteiro de obras. Inaugurado recentemente, com direito a churrasco, pago com dinheiro arrecadado pelos próprios usuários, o espaço foi adaptado e limpo pelos jovens, ” Aqui tinha um monte de lixo e até escorpião” comenta M.L.S, de 16 anos.

Por estar instalada em um local privado, os frequentadores têm consciência de que um dia terão que deixar o lugar.  “A gente também vai sair daqui, só não sabemos o dia. Aí a gente vai ter que voltar a ser ‘rueiro’, afirma E. P. de 14 anos.

Skatistas utilizam local que chamam de Praça Sul (Foto: Francisca Rodrigues)
Skatistas utilizam local que chamam de Praça Sul (Foto: Francisca Rodrigues)

A pista, localizada na Rua Independência ao lado da EMEF Perimetral,  tem rampa improvisada feita pelos próprios frequentadores com tábuas e pedaços de madeiras que recolheram, além de equipamentos adaptados feitos de ferro e revistas que utilizam como referência para realizar manobras. 

Antes de utilizar a atual pista, muitos andavam na Av. Hebe Camargo, correndo o risco de causar ou sofrer acidentes. “Lá na Hebe Camargo passa muito carro e eu quase  fui atropelada”, comenta uma adolescente, que completa “É muito arriscado ficar andando por lá”.

Por ter frequentadores em sua maioria crianças e adolescentes há uma preocupação que é inevitável: a questão do uso de drogas. Mas eles garantem que drogas não são consumidas no local. “Já veio muito policial aqui, só que ninguém mexe com coisa errada. O pico é para andar de skate, não é para mexer com nada errado”, ressaltou E. P.

Com mais de 25 anos praticando skate, Ed sabe a influência que tem sobre estes jovens e adolescentes. Ele acredita que o esporte pode mudar a realidade de muitos deles  que não têm muitas alternativas. E que é importante investir no esporte. “A necessidade atual mesmo são os cursos para os skatistas e o transporte para levar aos campeonatos”.

“A gente tem que dar um bom exemplo para eles. Por isso que é legal ter uma pista, um lugar organizado para a gente andar, porque daí é mais fácil  de levar a galera para o bom caminho, fazer estudar, sair do tráfico”, comenta o skatista Otávio Augusto Fernandes, 20, morador do Morumbi que anda de skate há mais de um ano em Paraisópolis.

O  projeto Skate Solidário de Marcelo Índio, junto a União dos moradores, tem esta preocupação de proporcionar por meio do esporte contribuir para a formação social, educacional e cultural de crianças e adolescentes para que possam atuar com autonomia na transformação de suas realidades. O projeto será realizado no CEU Paraisópolis e  irá oferecer aulas de skate para crianças e jovens.

 

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Jornalista, produtora cultural, diretora de comunicação da Cria Brasil, agência de comunicação de território de favela que surgiu com o compromisso de gerar impacto social positivo nas comunidades do país.

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