Sem ter com quem deixar os filhos, mães param de trabalhar por não conseguir vagas em creches de Paraisópolis

Publicado no Jornal Espaço do Povo 29

Captura de Tela 2014-03-14 às 08.25.53Mal começaram as aulas e muitas crianças estão fora da escola. A cada início de ano muitos pais são obrigados a parar de trabalhar porque não têm onde deixar os filhos. Em Paraisópolis, segunda maior comunidade de São Paulo, que concentra mais de 100 mil habitantes, as mães sabem muito bem o que é isso, muitas delas aguardam vagas até hoje.

Considerada por muitos como um pólo educacional pelo número de instituições municipais e estaduais, além das privadas gratuitas, como as gerenciadas pelo Mosteiro São Geraldo (Creche da Margarete e CEI Santo Estevão Rui) e a Associação Crescer Sempre, Paraisópolis ainda sofre as consequências do número crescente de crianças fora das creches e escolas, gerando não só transtornos aos pais, como também às próprias crianças, que deixam de ter acesso à educação.

Mesmo tendo dentro da comunidade uma unidade da CEI Renata Eugênia Rodrigues (Escola Anglicana), considerada uma das maiores creches do pais, responsável pelo atendimento de aproximadamente 400 crianças com idades de 0 a 3 anos, ainda faltam muitas vagas e a fila de espera para entrar nessa e nas demais instituições é longa, e pode levar muitos anos.

“Fiz a inscrição do meu filho antes dele completar dois anos. Sempre que olho a lista de cadastro ele está acima do número 200. Meu filho vai completar três anos e até agora ainda não saiu a vaga”, afirmou Luzia Rosa, 27.

Embora o número de creches e escolas seja considerável na comunidade, é importante destacar que ainda não é suficiente, já que o número de crianças é superior ao de vagas oferecidas. Não é difícil encontrar mães e pais que estão a procura de vagas até hoje, sendo que muitos deles, sem ter outra opção, têm de pagar escolas dentro ou até mesmo fora da comunidade, o que agrava mais o problema, já que, além de ter que arcar com uma mensalidade, os pais têm gastos também com o transporte escolar.

“Tenho que pagar escolinha e perua escolar porque a escola é longe. Foi o lugar mais barato que encontrei. Além dos gastos, também perco muito tempo em ter que levar e buscar meu filho, se a escola fosse na comunidade seria muito mais rápido”, explicou Luzia Rosa.

Um exemplo claro são os casos das crianças nascidas em 2011. Crianças nessa faixa de idade se deparam com uma imensa fila com mais de 400 à espera de vagas. Muitas delas já aguardam há mais de um ano, sem ao menos ter uma previsão de quando irão conseguir.

Diante disso, além de ter que arcar com os custos de uma escola particular, muitas mães ainda têm que pagar uma pessoa para cuidar da criança no contraturno escolar, como é o caso de Michele Santos, 30. “Para trabalhar eu tenho que pagar R$ 300 para alguém ficar com os meus dois filhos e mais R$ 70 do transporte escolar, isso porque a pessoa não os leva para a escola”, ressaltou.

Em outros casos, muitas mães até deixam de trabalhar, pois para muitas delas não compensa receber um salário e tirar boa parte para pagar escola particular ou até mesmo uma pessoa para cuidar da criança. É o caso de Silvana Carvalho, 37, que está sem trabalhar há mais de 3 anos por não conseguir uma vaga para a filha. Ela conta que trabalhou até os oito meses de gestação e após o nascimento da filha, como não conseguiu vaga, teve que deixar o trabalho. “Eu tenho muita dificuldade em encontrar vaga para minha filha de três anos. Ela está na lista há mais ou menos um ano e até agora estou sem trabalhar”, contou ela.

Além de ter que deixar o trabalho, Silvana ainda encontra dificuldades na hora de estudar. Mesmo sem trabalhar, conseguiu vagas em dois cursos oferecidos na comunidade, mas muitas vezes é obrigada a faltar para não deixar a filha sozinha. “Quando meu irmão está em casa, até deixo minha filha com ele, mas se ele não está, tenho que faltar no curso”, contou.

Realidade constante na vida de muitas mães da capital paulista, a falta de vagas em creches e escolas é algo alarmante. Divididas por setores, de acordo com as regiões de cada bairro, as listas de alunos que esperam uma vaga são imensas. Se comparada a listas de outros bairros, a de Paraisópolis chega a assustar. Na comunidade, um dos setores possui cerca de 400 crianças, sendo que em outras regiões o número é bem menor, como exemplo, o bairro do Campo Limpo, onde um dos setores possui apenas 41 crianças.

Diante disso, algumas perguntas não se calam: Por que ainda faltam vagas em uma comunidade que concentra aproximadamente 5 mil crianças? De quem realmente é a culpa do problema, que torna-se cada vez mais frequente? Até quando as mães terão que parar de trabalhar por não ter com quem deixar os filhos? E enfim, o que será feito para possibilitar o acesso à educação a todas essas crianças?. Essas e outras questões são levantadas diariamente pelas mães que sofrem as consequências diretas do problema, e que até agora estão sem resposta.

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