Maria da Penha: A merendeira de Paraisópolis

Dona Penha mora em Paraisópolis há 43 anos  (Foto: Francisca Rodrigues)
Dona Penha mora em Paraisópolis há 43 anos
(Foto: Francisca Rodrigues)

Sabe aquela pessoa que tem o dom de cozinhar, que tudo que prepara tem um sabor especial, característico, com gostinho de quero  mais? Pois é, a merendeira Maria da Penha Santos, 56, sempre usou o dom ao preparar as refeições dos alunos das escolas por onde passou. Conseguia dar um gostinho especial aos enlatados fornecidos pelo governo para o preparo do almoço ou do jantar.

 

O segredo? Alho, cebola e muito carinho. Segundo dona  Penha, cozinhava como se estivesse preparando as refeições para sua própria família. A dedicação também é uma das características da cozinheira. Muitas vezes, não parava nem para comer. ” Minha hora de janta eu não fazia, descascava alho, picava os ingredientes para deixar tudo pronto para quando fosse preparar a próxima refeição”, afirma. “O que eu dava para eles (os alunos) comerem se  o presidente da república chegasse lá eu botava na mesa sem medo”, se orgulha.

Quem estudou nas escolas Homero dos Santos Fortes e Etelvina de Góes Marcucci na época em  que dona Penha era a merendeira tem boas recordações. Os elogios surgem quando   relembram o gostinho do tempero ou o aroma que invadia a sala de aula. “Quem nunca comeu a comida da dona Penha, não sabe o que está perdendo. A comida que ela preparava era muito boa. Tinha gente que passava várias vezes na fila para repetir” afirma Elizandra Cerqueira, ex aluna da escola Homero. 

Dona Penha afirma que sempre trabalhou com alimento. “A minha profissão é cozinheira”, comenta ela, que durante muitos anos trabalhou em cozinha, tanto de restaurante quanto de casa de família. A primeira vez que trabalhou em escola foi ‘no Homero’, onde prestou um concurso e passou a trabalhar efetiva como funcionária do Estado. Passou por escolas como Ênio Voss, no Brooklin, e Etelvina, em Paraisópolis,  até retornar para a escola Homero, onde se aposentou. “Comecei ‘no Homero’ e me aposentei lá”, se orgulha. 

Paralelamente com o trabalho de merendeira, dona Penha fazia outras atividades como vender salgados para festas de  casamentos, de aniversários, entre outras. “Chegava a virar a noite trabalhando”. De acordo com ela, certa vez fez dez mil salgados para um casamento.

A relação que a cozinheira tem com a comida é desde a infância. Acredita que por ter tido uma infância muito difícil, pois chegava a não ter o que comer em casa, tenha respeito pelo alimento. “Comida pra mim é vida. Feita com carinho pode até sarar doente. Tudo que eu faço é com carinho, com cuidado. Olhando, prestando atenção e pegando para sentir o alimento”, comenta.

Nascida em São Mateus, no Espirito Santo, Penha  veio para São Paulo pensando em mudar  sua situação. Chegou na cidade há 43 anos. Morou no Real Parque, onde pagava aluguel. No final da década de 1970 mudou-se para Paraisópolis, passando a morar em dois pequenos cômodos com a família  na Rua Ernest Renan.  

“Saímos do aluguel. Eu estava sem nada na vida, vim pra cá para melhorar a situação”. E melhorou. Hoje dona Penha mora em uma casa que possui 22 cômodos. No local,  ela vive com o esposo, a filha caçula e a neta.

Dona Penha conseguiu muito mais do que uma oportunidade, que tanto buscava quando veio à São Paulo. Ela tem uma relação de carinho com a comunidade “Eu gosto daqui. É como um filho que a gente viu crescer”, finaliza.

 

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Jornalista, produtora cultural, diretora de comunicação da Cria Brasil, agência de comunicação de território de favela que surgiu com o compromisso de gerar impacto social positivo nas comunidades do país.

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