Profissão MC: Jovens tentam carreira no funk e se destacam na comunidade

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Comum nas periferias, o funk tem sido um dos ritmos mais ouvidos por jovens de diferentes classes sociais. Em Paraisópolis, segunda maior comunidade de São Paulo, a tribo do funk é composta por adolescentes e jovens que buscam se divertir nos bailes realizados no fim de semana. Como as casas noturnas que promoviam os bailes foram fechadas, o que restou foi participar dos pancadões nas ruas, como o da Rua Herbert Spencer, mais conhecido como o “17”.

O funk tem atraído muitos jovens. O que tem se tornado diversão para alguns é tido como profissão para outros. Eles buscam alcançar o tão sonhado sucesso como MC. Alguns investem em megaproduções de videoclipes e chegam a fazer até sete shows em uma única noite.

Mais que uma Hornet, uma Captiva ou uma Land Rover, os garotos sonham com o sucesso. Almejam aparecer na TV, ganhar muito dinheiro e ter condições de comprar uma casa para a mãe, ou simplesmente desenvolver projetos que ajudem jovens e crianças, como é o caso de Evandro Neris da Silva, mais conhecido como MC Recoba.

O jovem de apenas 21 anos tem consciência da influência do funk na vida de muitos garotos da comunidade onde vive. E por isso resolveu mudar as letras de suas músicas. Em vez de ostentação e proibidão, hoje, ele busca retratar a realidade.

“Eu vi que tem muita criança que ouve [funk]. Querendo ou não, a música influencia e pode mudar o comportamento de uma pessoa. Os MCs falam de Camaro e Iate, e a criança que está no barraco da favela ouve e não entende por que ela não pode ter”, afirma Recoba, que diz que respeita os MCs que “cantam ostentação”, mas ele chama atenção para o fato de que os MCs devem ter consciência da influência exercida nas letras de suas músicas.

Recoba também tem um projeto chamado Funk da Paz, realizado a cada dois meses no CEU Paraisópolis. Sem qualquer tipo de apologia, o projeto do funkeiro busca divulgar o trabalho de outros meninos que também cantam. “ A gente realiza [o funk da Paz] para lançar os MCs da comunidade que ainda não tiveram oportunidade de cantar no palco. Colocamos pessoas um pouco mais conhecidas aqui e também trazemos uns MCs famosos”, afirma.

Admirador dos MCs de Paraisópolis, o também MC Jonathan Silva de Almeida (MC Dodo), 16, tenta conciliar seu trabalho em uma rede de supermercados, com a carreira de cantor. Ele canta há pelo menos três anos e suas letras também retratam a realidade, como a canção “Conselho de Amigo”, que aconselha os jovens a não entrar no mundo das drogas.

Ganhando um salário mínimo como repositor, futuramente Dodo pretende deixar a profissão e seguir como MC. “Eu penso só na carreira de MC, o que eu sei fazer é cantar”, afirma. Ele acredita que depois de ganhar visibilidade com o novo videoclipe que está prestes a lançar, poderá aumentar o cachê.
Qual MC não gostaria de ter um videoclipe produzido pelo videomaker do funk, KondZilla? Além de divulgar o trabalho, uma megaprodução dá mais visibilidade ao cantores, que em início de carreira chegam a cobrar de 600 a 800 reais por uma apresentação de no máximo 45 minutos. Com a exibição dos vídeoclipes, as apresentações e os valores de cada show podem aumentar.

Depois de ter desembolsado cerca de R$ 7 mil no final de 2012 para produzir um videoclipe, Marcos Alves dos Santos (MC Forlan), 20, passou a ser chamado para se apresentar em algumas casas noturnas em São Paulo. “Com esse clipe tive retorno. Foi com ele que consegui expandir meu nome e fazer mais bailes”, afirma o MC, que depois que lançou o videoclipe chegou a fazer sete shows em uma única noite.

Muitos veem a carreira de MC como um negócio, uma profissão. Tem que saber investir e divulgar. “Ser MC é um trabalho como qualquer outro”, afirma Forlan, que diz que com o dinheiro que recebe do funk ajuda sua mãe no sustento da casa.

Assim como em outros bairros, os pancadões realizados na comunidade não são bem vistos por alguns moradores, isso por causa da sujeira, do barulho e da quantidade de pessoas nas ruas atrapalhando o trânsito, sem contar as letras das músicas, que para alguns moradores é causa de constrangimento.

Os MCs sabem desses problemas e apontam que se houvesse um espaço apropriado para que os bailes acontecessem, o problema poderia ser resolvido.

Muito diferente do que é relatado pela grande mídia, o Funk também tem o seu lado bom. Para os funkeiros, mostrar isso é questão de tempo. Eles reconhecem que o modo como o ritmo musical é visto já mudou muito. “Todo ritmo tem seu lado ruim, então não vamos julgar. O funk também não é a coisa ruim da sociedade, ele está evoluindo. Tem muita gente que está mudando a mentalidade”, afirma Recoba.

Para ele, todo ritmo que surge na favela sofre preconceito ao chegar na mídia. Ele cita como exemplo o Rap, outro tipo musical que causou polêmica no seu auge. “Quando o rap chegou na mídia teve um preconceito monstro, mas eu tenho certeza que daqui há algum tempo o pessoal vai procurar o lado bom do funk e ver que tem vida inteligante”, concluiu.

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